Se tem amor, por que o desejo morre?
- Ana Beatriz brito
- 30 de abr.
- 2 min de leitura
Essa é uma das perguntas mais frequentes no consultório. E, diferente do que muitos imaginam, a resposta não é tão simples.
O desejo não costuma desaparecer por falta de amor, tampouco apenas por causa da rotina. Na maioria das vezes, ele enfraquece quando deixa de existir espaço para imaginar, para projetar, para sentir falta.
No campo dos afetos, vivemos um paradoxo: buscamos segurança e estabilidade — mas o desejo se alimenta de instabilidade, de mistério, de ausência parcial.
Por isso, uma das tarefas mais complexas dentro de uma relação é saber dosar a quantidade certa de mal-entendidos.
Explico: se há mal-entendidos demais, idealizamos alguém que nos compreenderia melhor.
Se há de menos, sentimos que já sabemos tudo sobre o outro — tudo fica previsível, e o desejo esfria.
Embora nos ensinem que um relacionamento é um encontro de dois, ele raramente se sustenta apenas assim.
Sempre existe um terceiro elemento: um espaço simbólico que mantém o desejo em movimento.

Esse “terceiro” pode ser o mistério, a falta, a distância saudável, a fantasia — aquilo que escapa ao controle.
Talvez por isso o ciúme, as histórias mal resolvidas do passado, ou até aquela leve indisponibilidade que o outro apresenta mexam tanto com a gente.
O desejo não gosta de garantias absolutas. Ele se alimenta do que escapa.
Se tudo estiver sempre às claras, sem espaço para o mistério ou a ausência, o desejo sufoca.
Mas se a relação se fecha tanto a ponto de não permitir nenhum respiro, o desejo morre por asfixia.
De acordo com pesquisas da terapeuta e autora Esther Perel, a percepção de previsibilidade e falta de novidade é um dos principais fatores associados à queda do desejo em relações de longo prazo.
Para ela, o erotismo exige distância — e é justamente a ausência que dá margem à imaginação, elemento essencial para o desejo.
Então, talvez a pergunta mais interessante não seja apenas:
“Por que o desejo morre?”,
mas sim:
“O que mantém o desejo vivo para você?”
O desejo pode ser reencontrado — mas isso exige escuta, curiosidade, disponibilidade emocional e abertura para o diálogo.
Nem sempre se trata de fazer mais. Às vezes, é sobre olhar de novo. Revisitar sentidos, repensar acordos, reabrir os espaços de falta. O importante é começar a investigar as dinâmicas da relação, reconstruir a intimidade e abrir caminhos para que o desejo volte a circular.
A terapia de casal pode ajudar com isso.
